A origem da raça
Jersey: A Ilha
No Canal da
Mancha está situada a belíssima Ilha de Jersey, componente do grupo das ilhas
anglo-normandas. Pertencendo à
Inglaterra, fica mais perto da costa francesa (15 milhas), a 85 e 120 milhas dos portos ingleses
de Weymouth e Southampton, respectivamente.
Com superfície
total de 12.000 ha ,
e população de 55.000 habitantes (1929), 28.000 pertencendo à formosa capital
St.Helier e os demais distribuídos pelas duas minúsculas cidades de S.Auben/Gorey
e interior da Ilha, a viagem para Jersey é muito rápida e comoda, com linhas
regulares de pequenos navios que ligam St.Helier com St.Malo, Gramville e
Carteret (França), Weymouth e Southampton (Inglaterra).
A pequenina Ilha
de Jersey é cortada em todos os sentidos por diversas estradas principais, interligadas
por ótimos caminhos vicinais, formando um sistema rodoviário perfeito, sendo raro
um percurso de 300 metros
sem se encontrar um ou mais entrocamentos de estradas. Neste minúsculo país existem,
ainda, duas estradas de ferro!
O solo é de
origem granítica, a topografia acidentada, e o clima particularmente ameno
devido à corrente quente do golfo Stream que banha a ilha: um conjunto de
circunstâncias favoráveis, sem desmerecer o trabalho do homem, que deu origem a
uma vegetação exuberante e rica particularmente propícia à pecuária.
Deduzindo da
superfície total de Jersey a área ocupada pelas cidades, estradas de rodagem,
estradas de ferro, terras ocupadas com culturas diversas, terrenos
inaproveitados, etc., pouco sobra para a criação das 12.000 cabeças de Jersey e
um numero relativamente elevado de eqüinos, caprinos e suínos.
A raça Jersey,
econômica por excelência, dispensa qualquer descrição: não há quem dela não
tenha ouvido falar, mas nem todos conhecem como ela é criada no seu país de
origem.
Em 1929
Mr.J.A.Perrée, então figura de maior destaque na ilha, era um grande entusiasta
e conhecedor da raça, amigo de todos, e presidente de tudo: um verdadeiro
cavalheiro, e grande criador em quantidade e qualidade na sua magnífica
propriedade de Oaklands. Devido ao alto valor da terra em Jersey, é fácil
imaginar porque as propriedades eram, e são, diminutas: em média cada criador
possuia 12 a
15 cabeças, embora Mr.Perrée possuisse 200.
Cada
estabelecimento tem uma confortável residência, depósito e estábulo, os pequenos
potreiros geralmente não ultrapassando 1 ha (muitos com apenas 3 a 4 mil m2). Nessa
subdivisão das pastagens, levada ao extremo, é criado um número verdadeiramente
notável de animais, obrigando a um aproveitamento completo das forragens e a
sua renovação permanente.
As pastagens
constituídas de gramíneas e leguminosas de elevado valor nutritivo sofrem,
periòdicamente, lavração, adubação, e semeadura, com uma mistura de trevo,
azevem e, algumas vezes, alfafa. No fim de algum tempo as forragens nativas,
algumas de ótima qualidade, invadem o campo, sendo cada potreiro ceifado uma
vez por ano, e o feno assim obtido é guardado como reserva para o inverno. Beterraba,
cenoura e milho, principalmente para a alimentação das vacas leiteiras, também
são cultivados.
Há quase dois
séculos foi proibida a entrada de qualquer bovino na ilha de Jersey, medida que
teve como conseqüência a conservação da pureza da raça e, sob o ponto de vista
sanitário, evitou a entrada de numerosas doenças como a tuberculose, os carbúnculos
hemático e sintomático, o aborto epizoótico, a raiva, a febre aftosa, etc.,
completamente desconhecidos em
Jersey. Desde 1902 o Bureau of Animal Industry dos EUA
isentou da prova de tuberculose os animais exportados de Jersey para aquele
país.
Três organizações
vêm contribuindo para o melhoramento do rebanho bovino da Ilha de Jersey:
Registro Genealógico, Controle Leiteiro e Exposições.
Os cuidados
excepcionais a que tem sido sujeita a raça Jersey datam de mais de um século e
meio, entretanto o seu aperfeiçoamento teve início em 1833, quando foi fundada
a Royal Jersey Agricultural and Horticultural Society, que tomou a si o
melhoramento do gado da Ilha.
Em 1866 foi
fundado, anexo a essa Sociedade, o Herd Boock da raça Jersey. Se considerarmos
o grande rigor com que são avaliados os animais para fim de registro, poderemos
avaliar o elevado grau de aperfeiçoamento que atingiu a criação na Ilha de
Jersey, justificando plenamente a sua fama mundial.
O controle
leiteiro é uma das práticas mais importantes para as raças leiteiras, pois só
ele pode orientar a seleção no sentido de provocar um aumento da secreção
láctea ou da percentagem de gordura. O controle da produção do leite das vacas
da Ilha de Jersey vem sendo feito desde longa data, e de forma completamente
generalizada, serviço executado pela Royal Jersey Agricultural and
Horticultural Society.
Os concursos, ou
exposições, são regionais (abril e maio) ou gerais (agosto e setembro), geralmente
todos os criadores concorrendo e, dado o rigor com que são julgados os animais,
os premiados representam, de fato, os melhores da Ilha. A
exportação da Ilha de Jersey de 1.500 cabeças por ano, ou 12,5% de sua
população bovina,
tem nos Estados Unidos da América do Norte os melhores clientes, importadores anuais de
1.200 jerseys: na foto, touros da Ilha num navio destinado aos USA. (1929)
Do boletim “A criação na Ilha de Jersey, de Mário
Oliveira, 1930”
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