sexta-feira, 23 de agosto de 2019

ORIGEM, MELHORAMENTO E LINHAGENS DA RAÇA JERSEY (I)


A origem da raça Jersey: A Ilha


No Canal da Mancha está situada a belíssima Ilha de Jersey, componente do grupo das ilhas anglo-normandas. Pertencendo à Inglaterra, fica mais perto da costa francesa (15 milhas), a 85 e 120 milhas dos portos ingleses de Weymouth e Southampton, respectivamente.


Com superfície total de 12.000 ha, e população de 55.000 habitantes (1929), 28.000 pertencendo à formosa capital St.Helier e os demais distribuídos pelas duas minúsculas cidades de S.Auben/Gorey e interior da Ilha, a viagem para Jersey é muito rápida e comoda, com linhas regulares de pequenos navios que ligam St.Helier com St.Malo, Gramville e Carteret (França), Weymouth e Southampton (Inglaterra).


A pequenina Ilha de Jersey é cortada em todos os sentidos por diversas estradas principais, interligadas por ótimos caminhos vicinais, formando um sistema rodoviário perfeito, sendo raro um percurso de 300 metros sem se encontrar um ou mais entrocamentos de estradas. Neste minúsculo país existem, ainda, duas estradas de ferro!

O solo é de origem granítica, a topografia acidentada, e o clima particularmente ameno devido à corrente quente do golfo Stream que banha a ilha: um conjunto de circunstâncias favoráveis, sem desmerecer o trabalho do homem, que deu origem a uma vegetação exuberante e rica particularmente propícia à pecuária.


 A cultura do tomate e da batata inglesa assumiram proporções consideráveis, em 1928 a exportação da segunda atingindo quase 56 mil toneladas arrecadando 400.000 libras esterlinas. A produção de frutos, hortaliças e condimentos em geral, muito apreciados no mercado de Londres, ocupa também grande lugar na ilha.



Deduzindo da superfície total de Jersey a área ocupada pelas cidades, estradas de rodagem, estradas de ferro, terras ocupadas com culturas diversas, terrenos inaproveitados, etc., pouco sobra para a criação das 12.000 cabeças de Jersey e um numero relativamente elevado de eqüinos, caprinos e suínos.



A raça Jersey, econômica por excelência, dispensa qualquer descrição: não há quem dela não tenha ouvido falar, mas nem todos conhecem como ela é criada no seu país de origem.


Em 1929 Mr.J.A.Perrée, então figura de maior destaque na ilha, era um grande entusiasta e conhecedor da raça, amigo de todos, e presidente de tudo: um verdadeiro cavalheiro, e grande criador em quantidade e qualidade na sua magnífica propriedade de Oaklands. Devido ao alto valor da terra em Jersey, é fácil imaginar porque as propriedades eram, e são, diminutas: em média cada criador possuia 12 a 15 cabeças, embora Mr.Perrée possuisse 200. 

Cada estabelecimento tem uma confortável residência, depósito e estábulo, os pequenos potreiros geralmente não ultrapassando 1 ha (muitos com apenas 3 a 4 mil m2). Nessa subdivisão das pastagens, levada ao extremo, é criado um número verdadeiramente notável de animais, obrigando a um aproveitamento completo das forragens e a sua renovação permanente.


As pastagens constituídas de gramíneas e leguminosas de elevado valor nutritivo sofrem, periòdicamente, lavração, adubação, e semeadura, com uma mistura de trevo, azevem e, algumas vezes, alfafa. No fim de algum tempo as forragens nativas, algumas de ótima qualidade, invadem o campo, sendo cada potreiro ceifado uma vez por ano, e o feno assim obtido é guardado como reserva para o inverno. Beterraba, cenoura e milho, principalmente para a alimentação das vacas leiteiras, também são cultivados.

Há quase dois séculos foi proibida a entrada de qualquer bovino na ilha de Jersey, medida que teve como conseqüência a conservação da pureza da raça e, sob o ponto de vista sanitário, evitou a entrada de numerosas doenças como a tuberculose, os carbúnculos hemático e sintomático, o aborto epizoótico, a raiva, a febre aftosa, etc., completamente desconhecidos em Jersey. Desde 1902 o Bureau of Animal Industry dos EUA isentou da prova de tuberculose os animais exportados de Jersey para aquele país.

Três organizações vêm contribuindo para o melhoramento do rebanho bovino da Ilha de Jersey: Registro Genealógico, Controle Leiteiro e Exposições.

Os cuidados excepcionais a que tem sido sujeita a raça Jersey datam de mais de um século e meio, entretanto o seu aperfeiçoamento teve início em 1833, quando foi fundada a Royal Jersey Agricultural and Horticultural Society, que tomou a si o melhoramento do gado da Ilha.

Em 1866 foi fundado, anexo a essa Sociedade, o Herd Boock da raça Jersey. Se considerarmos o grande rigor com que são avaliados os animais para fim de registro, poderemos avaliar o elevado grau de aperfeiçoamento que atingiu a criação na Ilha de Jersey, justificando plenamente a sua fama mundial.


O controle leiteiro é uma das práticas mais importantes para as raças leiteiras, pois só ele pode orientar a seleção no sentido de provocar um aumento da secreção láctea ou da percentagem de gordura. O controle da produção do leite das vacas da Ilha de Jersey vem sendo feito desde longa data, e de forma completamente generalizada, serviço executado pela Royal Jersey Agricultural and Horticultural Society.


Os concursos, ou exposições, são regionais (abril e maio) ou gerais (agosto e setembro), geralmente todos os criadores concorrendo e, dado o rigor com que são julgados os animais, os premiados representam, de fato, os melhores da Ilha. A exportação da Ilha de Jersey de 1.500 cabeças por ano, ou 12,5% de sua população bovina, tem nos Estados Unidos da América do Norte os melhores clientes, importadores anuais de 1.200 jerseys: na foto, touros da Ilha num navio destinado aos USA. (1929)



Do boletim “A criação na Ilha de Jersey, de Mário Oliveira, 1930”