segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A GRANJA SINHÁ MARIA

GRANJA SINHÁ MARIA
Santo Ângelo – RS
Da narração do Engº. Agrº. Gerzy Ernesto Maraschin

Os irmãos Maraschin, Wilson, Gerzy e Enio, em 1961 numa parceria iniciaram a Granja Sinhá Maria A produção de leite era atraente, e tínham amigos produtores de leite que ganhavam a vida ordenhando “vacas mestiças e outras mansas”, usando o “touro do vizinho”. Poucos tinham um reprodutor com alguma qualificação, fortalecendo a idéia dos filhos de um açougueiro a produzir leite com ventres qualificados e produzir reprodutores. Conseguindo um touro Jersey PO, oriundo da Estação Experimental Zootécnica de Montenegro, Secretaria da Agricultura, e um lote de vacas comuns, arrendaram área no município de Santo Ângelo-RS, crescendo a vontade de criar animais puros de pedigree, para venda de reprodutores e competição.
Ainda em 1961, adquiriram duas vacas PO e três PPC da Granja Santa Rita, Guaíba-RS, e mais 3 fêmeas PO no ano seguinte do Engº. Agrº. Antonio Carlos Pinheiro Machado, Granja Zuleika, Triunfo-RS. Em 1963 participando da FENASOJA em Santa Rosa, conquistaram o Grande Campeonato de Fêmea com uma das novilhas adquiridas da Granja Zuleika. Em 1964, uma terneira já crioula venceu na Exposição de Cerro Largo e, na primavera, mesmo com o rebanho vacinado foram atingidos pela febre aftosa, perdendo vacas PO e PPC, outras deixando de reproduzir, além de vários abortos ocorridos. A mudança para uma nova área e os gastos com instalações e construção de silo, alem da redução dos animais em produção, forçaram uma retração. Os tropeços foram assimilados e, em 1966, conseguiram uma área de terra de cunho permanente, onde se reiniciou o criatório com mais um touro do rebanho de Montenegro, excedente da CRIA. A partir dali, puderam pensar com mais consistência. Pudera. O leite era entregue diretamente aos consumidores.




A partir de 1968 o crédito agrícola aceitou a penhora do rebanho para adquirir trator equipado, insumos agrícolas e novas instalações. Foi implantado alfafa no campo e os trevos nas pastagens, com significativa contribuição do capim elefante, cortado e picado para fornecer no cocho. Em 1969 foi adquirido novo touro Jersey da Estação Experimental de Tupanciretã, RS. Em 1971, Enio se retira da sociedade, de 1971 a 1975 o engº. agrº. Gerzy Ernesto Maraschin esteve fora cursando o doutorado na Universidade Florida-USA, o comandante Wilson Maraschin sediado na Europa voando pela VARIG. Contrataram um administrador para gerenciar a granja até o retorno de Gerzy. A partir de 1976 o capim elefante passou a ser pastejado pelas vacas em lactação, que pernoitavam nesta pastagem o ano inteiro, no inverno recebendo suplementação de silagem ali mesmo: a produção de leite passou a ser baseada em pastagens cultivadas.
Ainda em 1976 o engº. agrº. José Ronald Bertagnolli visitou a granja dizendo-se admirado com as quatro gerações de vacas PPC mantidas junto com as PO. Os Maraschin visitaram a Sementes e Cabanha Butiá em 1979, ficando impressionados com o seu rebanho Jersey.
“Destas visitas e encontros, além da Expointer e das trocas de idéias sobre a raça Jersey e o seu futuro, brotou uma grande confiança e amizade. Compartilharam destes encontros informais outros jersistas que estreitaram laços conosco e conheceram a surgente Granja Sinhá Maria. Também tivemos oportunidade de sentir o grau de competição e de concorrência existente no seio do Jersey do RS. Nefasta sob todos os aspectos”, diz Gerzy.


A partir de 1978 começou a liberação de animais penhorados ao Banco do Brasil, iniciando a venda para muitos produtores. No melhoramento foi imposto um desafio ao rebanho, as fêmeas que responderam positivamente identificadas e inseminadas com touros provados, suas descendências cobradas com critério estabelecido.

Maraschin declara: “A Fenasoja foi um palco onde a granja Sinhá Maria brilhou bastante e vendeu bem. Ainda em 1978 viemos à Expointer adquirir um reprodutor. Do que vi no galpão nada agradava. Resolvi assistir ao julgamento dos machos. Ai apareceu um terneiro que foi Campeão Junior. Adquirimos na hora do Sr. Manuel Acylo Azambuja. Ao final o mesmo veio a conquistar o Reservado de Grande Campeão da Expointer de 1978. Também neste dia aprendi a conhecer uma boa vaca Jersey. Acylo Azambuja tinha uma vaca dois anos, nos ofereceu e pediu um alto valor. Olhei a vaca, achei boa mas recusei. Neste momento entra no pavilhão Antonio Carlos Pinheiro Machado. Nos cumprimentou, olhou a vaca e perguntou se estava a venda. Sim, respondeu Acylo. Qual é o preço? Acylo lhe disse e Pinheiro Machado lascou um cheque no valor. Acylo me olhou de soslaio, como dizendo “aprenda a conhecer vaca boa e de valor”. A vaca foi Campeã Dois Anos, e também ganhou em São Paulo. Valeu a lição. Naquele dia aprendi a conhecer boas vacas e saber do seu valor”.
Continuando: “Com a evolução do rebanho e o amadurecimento do pessoal, ocorridos em função do controle leiteiro particular que realizavamos quinzenalmente, chegamos à Expointer de 1981. Conseguimos o Campeonato de Vaquilhona Menor, e primeiro premio com Terneira Maior, além de dois segundos prêmio nos Campeonatos de Vacas. Vendemos algumas, compramos outras, e mais um terneiro da criação de Sir Edward Towill, de Nova Petrópolis, RS. Neste ano e no seguinte vendemos dois lotes de vacas, selecionadas pelo Méd. Vet. Enedi Zanchetti, para os rebanhos de Santa Catarina.
Sempre demos atenção e procuramos adquirir bons reprodutores. Isto porque já sabíamos das boas vacas leiteiras da granja que produziam a pasto. As aquisições em Esteio ajudaram a comprovar o que tínhamos em casa. Vendemos as compradas e nunca mais se adquiriu ventre algum. Fomos selecionando as nossas. Este assunto gerava discussões saudáveis e construtivas com Ronald Bertagnolli, Ney Ferreira e Elton Butierres. Materializamos nossas bases funcionais para avaliação dos ventres da Sinhá Maria, tendo fertilidade, produção de leite, persistência da lactação, tipo e longevidade sempre presentes. Isto era realizado anualmente, após a captação de alguma mensagem cabível para as nossas avaliações.
A partir de 1981 iniciamos o controle leiteiro oficial, sob orientação da Associação Brasileira de Criadores de Gado Jersey, sediada em São Paulo. Em 1982 obtivemos uma grande contribuição para o rebanho da Granja Sinhá Maria. O sócio Gerzy atuou como interprete de um jurado canadense. Em reunião prévia com os expositores ficara esclarecido que o jurado seria orientado a fazer seus comentários e eles seriam traduzidos com fidelidade. A primeira avaliação foi do nosso touro adquirido em 1981, e sua aparência não agradou a ele, que o cortou em pedaços, colocando-o em 6º lugar na categoria. Suas impressões foram traduzidas para a assistência, que respondeu com uma sonora gargalhada. Vivi uma situação critica, pois tive que traduzir comentários que fazia a outros. Mas valeu o aprendizado, pois tínhamos um bom substrato Jersey para aplicar aquele conhecimento. No julgamento das vacas secas, depois da décima colocada, alinhou outras tantas e disse com firmeza que não criaria aquele tipo de animal. E se estivesse num tambo não as ordenharia na manhã do dia de Natal, e sim telefonaria para a salsicharia para dar tratamento adequado àquele tipo de animal. No entanto, os jersistas encontravam lugar para aquele tipo de animal na Expointer. Era só pagar a inscrição e lá teria chance de um negócio! A constância desta presença comprometeu o Jersey.
Em 1983 foi o grande ano da Granja Sinhá Maria, em Esteio. Depois de uma disputa acirrada nas categorias de vaca adulta, a nossa Vaca Adulta levantou o Grande Campeonato de Fêmeas da Expointer. No dia seguinte, após o desfile dos campeões, iniciou uma discussão no seio da granja, que levou um ano para eu entender. A granja ainda era maior que interesses pessoais. E a nossa vaca em 1984, venceu as importadas na disputa do Campeonato Vaca Adulta, e foi castigada na grande final. Ali deu mais alimento ao sócio majoritário, que o levou a pensar que tinha condições de ficar sozinho com a granja. Só fui me dar conta na avaliação anual dos animais, quando a nossa campeã terneira menor estava indevidamente prenhe. Solicitei a demissão do funcionário e encontrei a maior defesa por parte do então sócio majoritário. Como meus compromissos na Universidade impediam que permanecesse mais dias lá, foi o suficiente para ele desfazer a atividade conjunta. Retirei os animais e equipamentos que me cabiam, e acabou o sonho e intenções com a Granja Sinhá Maria”.


Mas Gerzy não parou, e o Sitio Josian, com seu prefixo GEMA, iniciou em 1985 com a aquisição de uma área de terras em Sapiranga, RS. Minhas duas filhas Simone (8 a.) e Ângela (5 a.) também gostavam muito das Jerseys. No ano de 1984 a denominação iniciava com a letra “D”. E ambas queriam uma terneira com um nome que as lembrasse: a da Simone foi chamada de “Dada” e a da Ângela, como já passara a letra “A”, ficou o nome de “Dângela”. No registro desta terneira na ACGJRS, foi denominada Donzela. A turbulência da época não permitiria trocar o nome da terneira. Nem tentamos. O novo plantel era composto por 20 ventres PO oriundos do rebanho da então Granja Sinhá Maria, mais o touro Charrua Title do Butiá, adquirido da Sementes e Cabanha Butiá, de Passo Fundo. Por um período de tempo tivemos problemas para a efetiva transferência dos animais para o nosso nome. O proprietário anterior se negava a dar a transferência e a ACGJRS dizia que nada podia fazer. Belo papel dos responsáveis da época... (segue em próxima edição)